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Excesso de informação não é conhecimento

Esta é uma sociedade difusa. Já não há faróis, que nos indicam caminhos a seguir. O professor já não é magister, colocam-se em causa as decisões dos juízes, os cromossomas humanos já não são apenas x e y. Em muitos aspetos ainda bem, pois põe em causa valores retrógrados, mas a opressão opinativa não ajuda à tomada consciente de posições sobre o que acontece no mundo.

A resposta não passa por clamar “dantes é que era bom”, antes devemos perceber as razões para tal acontecer.

As opiniões são exacerbadas, com as redes sociais como palco propicio para discutir tudo. O problema não está em discutir, mas, ao colocar tudo em causa, desfocamos do que é principal, posicionando ao mesmo nível lixo e questões importantes, tais como ter mais qualidade de vida, mais conhecimento, mais razões para ter confiança no futuro. E tudo tem de ser apercebido e optado rapidamente, imediatamente. Afirma um amigo meu que “o excesso de informação é o maior processo de censura coletiva alguma vez existente na humanidade. Tanto ruído silencia e seca tudo à volta”.

Penso que a causa principal provem da evolução do capitalismo, que se tornou neo-liberal, criando a ilusão de que todos podem influenciar a sociedade, através de eleições ou da emissão de opiniões, tudo se pode discutir, quando na verdade existem fronteiras estreitas que limitam essa liberdade, criadas por quem tem o poder económico. A democracia neo-liberal aparenta liberdade, mas na verdade só é livre quem obedece às regras impostas pelo capitalismo: somos oprimidos por teorias e comentários de sentido único, apesar de aparentemente plural. Quanto menos Estado melhor, cabe ao mercado tudo regular, tudo é mercantilizado, até a cultura.

Veja-se este exemplo: apenas 40% dos telespectadores têm cabo, enquanto a grande maioria da população (60%) só vê TV generalista (RTP1, SIC, TVI, RTP2). Na TV generalista só há 2 comentadores e ambos de direita (Paulo Portas e Marques Mendes)…

Mas atenção, nada de essencial mudou, apenas o peso da tal “verdade única” é maior. Num livro muito recente, “Portugal entre Churchil e Hitler”, o historiador Sérgio Luis de Carvalho escreve que O atual jornalismo está, como sempre, subordinado à tal ‘verdade única’. Nem sequer se pode falar de crivo noticioso; pelo contrário, é fácil constatar que a maioria dos media está “em guerra”, ora alinhando pelo discurso oficial, ora omitindo notícias supostamente discordantes, ora adulterando as próprias notícias.

Acresce que o próprio mundo abana, está perigoso, seja pelas guerras que acompanham o nascimento da Nova Ordem Internacional ou pela questão ambiental, pelas dúvidas relativamente às Novas Tecnologias da Informação como a IA ou por extremismos trazidos pela ultra direita (são violentamente nacionalistas, racistas, xenófobas, homofóbicas).

Gradualmente, desde finais dos anos 80 do século passado, vamos compreendendo que o excesso de informação trouxe confusão e menos acesso à mesma. Quem diria que livros à venda nos supermercados, como se produtos imediatamente consumíveis se tratassem, documentos online com acesso gratuito, podcasts, comentadores, blogs, influencers, breaking news, alertas, telejornais – sobre tudo se escrevendo e imitindo opiniões – não criasse receptores mais esclarecidos?

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Há informação que é falsa ou sinuosa, mas não é fácil para o receptor escolher. Uma pesquisa na net oferece resultados que colocam ao mesmo nível opiniões fundamentadas e meras especulações efémeras. Cabe aos analistas da informação, intermediários entre os factos ou fontes e o leitor ( jornalistas, bibliotecários e documentalistas, livreiros, etc.) ajudar à orientação dos interessados, denunciando dados inseguros ou não confiáveis. Apoiar a pesquisa numa biblioteca ou numa livraria digital ou em papel, criar uma notícia confirmando a veracidade da fonte, recorrer ao fact checking quando existem dúvidas, são algumas das formas dos profissionais da informação auxiliarem os leitores.

Mas também a todos nós cabe saber escolher e aprofundar os temas que nos interessam, percebendo o que é de facto importante e evitar cair em atrações que só baralham as nossas decisões, assim criando conhecimento.

Mais do que nunca, devemos ter espírito aberto ao novo mundo, mas duma forma critica e atenta. A minha formação de bibliotecário obriga-me a pensar sobre estes novos desafios.

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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