Faleceu Rigoberto do Rosário, autor do hino macaense “Macau Terra Minha”.
Nasceu em Macau em 1949, tendo emigrado para o Brasil no início de 1970, um dos músicos que mai divulgou a música de Macau. Rigoberto Rosário Jr., mais conhecido por “Api” ou “Rigo”, foi um dos membros da banda The Thunders, bem como autor de inúmeros quadros, maquetes e textos sobre o território.
Durante os anos 50 a música rock acompanhou em Macau o adormecimento da cidade, não existindo grupos musicais ou locais de espectáculos onde este ritmo emergente se pudesse ouvir. Mas logo em princípios dos anos 60 os conjuntos rock/pop começaram a surgir em força, e o primeiro grupo de “roqueiros” (precisamente “The Rockers”) era formado por Johnny Reis, Giga Robarts, Carlos (Sonny) Gomes e os irmãos Nuno e Alberto de Senna Fernandes. Apresentaram-se pela primeira vez em publico no Hotel Riviera, cuja gerência decidira organizar matineés dançantes aos fins de semana.
Em 1963 realizou-se o 1º Festival Musical de Macau, onde os Grey Coats foram vencedores, que teve lugar no Teatro Cheng Peng, perante mais de 2.500 pessoas. No ano seguinte é organizado o 2º Festival Musical de Macau, já com o apoio do Movimento Nacional Feminino, há semelhança do que aconteceu na metrópole e nas outras colónias.
Mas foram The Thunders que “causaram furor no território e em Hong Kong”, segunda a Revista Flama de 1969. Formados em 1965 a partir dos Colourful Diamonds e dos Gatos Negros/ Black Cats, os Thunders ganham maior notoriedade quando em 1968, em Hong Kong, ganham o Star Show, o que possibilita a gravação para a Columbia/EMI do single She’s In Hong Kong/ My Love Is a Dream, com o apoio do macaense Ray Cordeiro, há muito DJ Influente na cena musical de Hong Kong (chegou a entrevistar os Beatles quando da sua visita ao território com soberania inglesa).
Dado o êxito deste trabalho seguem-se mais dois singles e um EP, todos lançados em 1969, assim como um contrato com a boite Copacabana, também em Hong Kong, onde tocaram ao lado dos Mystics, conjunto também formado por luso-descendentes. Gravam o seu último disco, Macau – Minha Terra, em 1970, que regravam em 2004, num CD que conta a história do grupo, preparada pela historiadora Cecília Jorge.
A banda inicial era composta pelos músicos Herculano Airosa (Alou) nas teclas, Armando Sales Ritchie na viola baixo, Rigoberto do Rosário Jr. (Api) viola solo, Domingos Rosa Duque (Lelé) viola ritmo, Manuel Costa na bateria e percursores, com letras e músicas de Rigoberto do Rosário Jr.
Em 1971, a banda desfez-se. Quatro dos seus integrantes, Armando Ritchie, Herculano Airosa “Alou”, Manuel Costa e Rigoberto Rosário Jr. emigraram para o Brasil. Domingos Rosa Duque “Lelé” permaneceu em Macau. Posteriormente, Manuel emigrou do Brasil para o Canadá.
Cerca de 30 anos depois, The Thunders voltaram a tocar em Macau, no Encontro das Comunidades Macaenses de 2004, e em 2013 Api grava “Olá, Macau”, o seu primeiro disco a solo, um CD lançado na Casa de Macau de São Paulo.
Em colaboração com o site Projecto Memoria Macaense (PMM) e o blog Crónicas Macaenses (CM), Api lançou a ideia de classificar o tipo de música ligada à comunidade macaense como Música Popular Macaense (MPM), seguindo o modelo brasileiro e português.
Os seus temas foram interpretados por vários artistas e grupos de Macau, como a Tuna Macaense, outro dos símbolos da música macaense. Em conversa com Victor Jorge, músico que recebeu por sangue a musicalidade de Camilo Pesanha, apercebi-me da curiosa ligação entre a Tuna Macaense e o poeta, pois vários dos membros dessa banda são também seus descendentes.
Em breve voltaremos a esta e outras histórias sobre a fascinante cena musical de Macau.