Salazar eleito “o maior português de sempre”, lembram-se? Foi num programa da RTP, conduzido por Maria Elisa, em Março de 2007. Em segundo lugar ficou Álvaro Cunhal. O sinal estava dado e, desde esse dia, que estávamos todos informados da falta de memória, da memória em falta e da imbecil catarse que não foi feita, depois do golpe militar de 1974. As escolas mal ensinam o que foi o Estado Novo. Durante os últimos anos, ao acompanhar o estudo da História dos meus filhos, via a leviandade com que os manuais tratavam o regime anterior e a bondade entregue a António de Oliveira.
No programa de TV, o “advogado” de Salazar foi o genial professor (e meu professor)
Jaime Nogueira Pinto, um homem de intelecto superior, para pena minha do lado errado
da História, mas culto, apaixonado pelo Marxismo, de eloquência e retóricas informadas.
Parece que este domingo, e apesar dos achaques gástricos, o advogado de negócios e
antigo militante do PSD, André Ventura, melhor aluno de Marcelo Rebelo de Sousa,
arrumou o Partido Socialista e cavalgou uma vitória clara do populismo. Não me espanta.
Respeito.
Primeiro, porque os votos ainda não são manipulados e o partido Chega! subiu mesmo na
votação em todo o país. Só Lisboa o deixou em quarto ou quinto lugar, senão a vitória do
Chega! seria ainda mais clara. Mas Lisboa e Porto resistiram à tentação e votaram n’outra
aberração, a Spinumviva, o caso pior contado da democracia portuguesa. Pior, porque os
eleitores estão fartos de quezílias e, como julgam os políticos todos pela mesma tabela de
pesos e medidas, mais uma Spinum não aquece nem arrefece. Depois, porque só
“A cantiga popular ao passar
Todos a julgam banal e afinal
Vai sorrindo à própria dor
Cantando em trovas de amor
O seu destino fatal”, como cantava Deolinda Rodrigues.
E foi isso que aconteceu, o “destino fatal” de ter um partido que, de tanto prometer, se
fosse Governo, fazia um défice de 14 mil milhões de euros logo no primeiro Orçamento.
Mas ninguém quis discutir a sério com o Chega!. Trataram-no, como os aristocratas e os
burgueses fazem, como um “pequeno incómodo”, uma melga atrevida em noite de Verão,
que se enxota, em vez de ir buscar a vela anti-melgas e levar a sério o voo do moscardo.
O resultado parece um terramoto, mas não é. É consequência clara da sociedade
sebastianista, alimentada por 30 anos de poder de Cavaco Silva e José Sócrates. A
consequência foi que ambos, mas não só, transformaram o eleitorado em claque de futebol
e André Ventura em “Macaco” do FCPorto. E funcionou. Somar PCP, BE e Livre dá 10
deputados. Não me falem de vitórias morais dos “pequenos” à esquerda. Dez deputados,
todos juntos, não dá nem para apresentar um protesto em condições na Assembleia.
Quanto ao PS, os meninos da JS e do jovem PS de Sócrates, ou da sua escola, que
abandonem de vez o partido. Têm 45, tinham 20 quando o genial José Pinto de Sousa era secretário-de-Estado do ambiente. E do Desporto. E dava abraços homicidas a Carlos Cruz.
Sim, o PS necessita de ir para as termas, para a Disneylândia e para um Gulag “Big House”
para ver se apanha um susto. Temo que isso não aconteça.
Cá aguardo os próximos dias, a caminho do Bloco Central. Pois apesar de vencedora, a AD
não se aguenta sozinha.