Em setembro, o Grupo Entre Nós estará na Fundação Oriente e em outros locais do país, interpretando temas em concani e português. As vozes de Nádia Rebelo e Omar de Loiola Pereira, que também terá seu cargo o acompanhamento à guitarra, com Selwyn Menezes no violino e bandolim, Nigel Vales no teclado e Neil Fernandes no gumot (instrumento originário de Goa), transportam-nos à descoberta de histórias e sons únicos de Goa. Os temas serão apresentados enquadrando o seu significado, referindo costumes de Goa como a comida e abrangendo o teatro tradicional (Tiatr) e o cinema em Bombaim. Os cinco músicos oriundos de Goa interpretam canções dos anos 60 até aos dias de hoje.
Não foi por acaso que diversos músicos goeses, principalmente ligados ao jazz, foram tão importantes em Dar es Salam, Karachi e principalmente Bombaim a partir dos anos 30 do século XX. Enquanto o colonialismo inglês propagava a arte dos negócios, o ensino português, particularmente nas escolas jesuítas, transmitia a arte da música. Essa ligação dos goeses católicos à música manifestou-se não apenas no folclore luso-oriental, como em danças tradicionais como o mandó, o dulpod e o deckni, mas também na própria vivência cultural em todo o chamado Estado da Índia Portuguesa, onde sons e instrumentos distintos da tradição indiana pululavam nas festas, bailes e rituais religiosos.
Existem lugares no Oriente onde a presença da cultura portuguesa empresta características especiais, designadamente em Macau e Goa, mas também em Malaca, Indonésia e Sri Lanka, entre outros locais da Ásia. Esses elementos diferenciadores podem passar pelo culto da religião católica, uso da língua portuguesa ou de seus derivados, culinária com sabores provenientes de Portugal, arquitetura de raiz ocidental ou mesmo portuguesa, além de componentes artísticos influenciados pela secular presença portuguesa, designadamente na música. Há estudos que encontram uma designação comum para estes sons que embarcaram nas caravelas e deixaram marcas no Oriente, designadamente em Tugu, na Indonésia: keroncong (ver o meu levantamento “Indonésia: Banda sonora para uma presença oculta”).
Em Goa, claramente encontramos a música como exemplo de misticidade de sons portugueses, indianos e mesmo de outras regiões com tradições lusitanas, bem representados pelo grupo Entre Nós, onde os temas reflectem essa multiplicidade cultural, na linha dos coletivos Gavana e Wakers, já desaparecidos.
Promovido pela Associação PorGoa, o grupo terá diversas atuações e atividades em Portugal, num programa designado por Há Goa Entre Nós, As Histórias e a Música.
12 de Setembro – concerto às 7 e meia da tarde no Museu do Oriente em Lisboa (atenção: quase esgotado)
17 de Setembro – Workshop para os jovens da associação Pais em Rede com a elaboração de um pequeno teatro à volta de uma canção de embalar
18 de Setembro – workshop de música na OMA (Oficina de Música de Aveiro), com jantar comunitário e a finalizar com concerto no espaço da OMA
19 de Setembro – Mesa redonda em Ovar com portugueses que têm interesse em Goa organizado pela agência de turismo Landscape.
20 de Setembro – Concerto ao ar livre na Praça das Galinhas em Ovar
21 de Setembro – Concerto na na Universidade de Aveiro
Quem vai recusar sentir um pouco do encanto de Goa?