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Alcafozes/festival de espargos… vender “gato por lebre”, um viciozinho trapaceiro bem português

Anunciava-se nas redes sociais o 7º festival de espargos, criadilhas e tortulhos em Alcafozes, perto de Idanha-a-Nova, a mais de 200 quilómetros de Lisboa, neste fim de semana. Movidos pela curiosidade, pois é também para isso que estes géneros de festivais existem, atrair gente, pusemo-nos ao caminho, sábado, e já bem perto fomos encontrando gigantes cartazes a anunciar o mesmo: Íamos comer iguarias com estes legumes e até comprá-los. Certamente que existiriam camponeses a expô-los e a vendê-los. Desenganem-se! Foi o que se designou de vender “Gato por Lebre”, um viciozinho bem português.

Foto: Otília Leitão

Eu e um grupo de amigos, tínhamos registado o Festival dos Espargos, Criadilhas e Tortulhos em Alcafozes, concelho de Idanha-a-Nova, para o fim-de-semana, 22 e 23 de março”. Nas redes sociais, media locais e oficiais, lemos expressões como estas: “uma celebração única da gastronomia e da cultura rural da região”; “Os visitantes não só poderão degustar ou levar para casa produtos de excelência, como também aprender receitas criativas no recinto do Festival”; ou ainda “a descoberta de produtos silvestres, aprender a cozinhar espargos”, eram frases que se repetiam.

Logo à entrada da aldeia, está escrito no muro “terra de pão”, em memória de uma padeira que já existiu. Pão fresco ou um simples museu do pão, nem vê-lo.

Foto: Otília Leitão

Como a abertura do festival se anunciava às 15h00, procuramos almoçar em Idanha-a-Velha, uma aldeia histórica, malcuidada. O restaurante, Casa da Amoreira, dentro da muralha, o único aberto, disse-nos o menu: “pica-pau, ovos rotos, salmão grelhado e chochos grelhados”. Estranhamos: então um festival de espargos… e nem uns ovinhos mexidos com eles? Ou umas costeletas de borrego… que os vimos aos rebanhos?”. Cada vez a nossa estranheza aumentava: Então um festival não exigiria uma parceria com outros restaurantes que confecionassem pratos com aqueles legumes?

Foto: Otília Leitão

Lá fomos a Alcafozes…convencidos que petiscaríamos várias iguarias. Procuramos nas tasquinhas de crochet, nas das farturas, na dos queixos e enchidos, no stand dos “budas chineses”, na tendinha do pão e dos bolos de fábrica embalados em papel, corriqueiros de feira em feira. “Não. Não há nada. É só o nome”. Outros disseram “o tempo não deixou apanhá-los”. Mas tem estado todo o dia de sol…dissemos, já com uma gargalhada de desilusão. “Mas se quiser ver o que é, tenho lá em casa…” dizia uma mulher com ar de pena, perante a nossa deceção.

“Perguntem ali naquele restaurante”, o único a funcionar, com uma esplanada improvisada. “Já não temos nada”, disseram. Então e os camponeses não vieram expor os produtos? “Não”. Depois vimos o empregado, à pressa, arranjar uns pratinhos com os tais leguminosos…. “para arranjar estes já foi muito difícil”, justificou o dito empregado, enquanto um canal de televisão local, filmava, ávido, os tais pratinhos propositadamente postos em fila sobre a mesa, indiferente ao desagrado das pessoas vítimas de uma fraude.

Revimos o programa das festas para os dois dias. Todo o resto era “o dejá vu” noutras aldeias. Nada de tradicional, nada de original, pelo contrário, evidenciava-se o “pimba”, o lúgubre, o desenrasca, uma higiene duvidosa e uma apresentação pouco convidativa a visitantes.

Foto: Otília Leitão

Conclusão: assistimos à feitura de uma “fake news”, ao mau gosto, à falta de criatividade e até de alma, em explorar os produtos locais. Confirmamos uma descarada promessa, fraudulenta, de um um festival de publicidade enganosa, inexistente, que podia ser bom, original e até pedagógico, englobando parcerias com outros restaurantes em redor. Espargos, conhecemos a maioria. Criadilhas e tortulhos, poucos sabem o que são…

Foto: Otília Leitão
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Otília Leitão
Otília Leitão
Doutorada em Ciências da Comunicação no ISCTE-IUL (2021), Mestre em Comunicação, Media e Justiça Universidade Nova de Lisboa ( 2010-2012). Licenciatura em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa (Menção jurídico políticas). Curso de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa (sistema e-learning) Instituto Camões.

4 COMENTÁRIOS

  1. Obrigado OTILIA, pelo texto.
    Este evento, foi marcado logo após a feira do turismo, que teve lugar em Lisboa.
    Os representantes da Câmara, estiveram nessa feira em peso…
    ….para quê?
    Esta fraude é bem o exemplo do abandono a que este território tem sido levado, pelos políticos, que têm pouco empenho

  2. O tempo estava bom, se tivessem interesse em ter há venda os produtos anunciados, entrariam em contacto com quem apanha dezenas de quilos como faziam os outros anos, eu sempre lhes vendi e este ano por acaso tinha pelo menos 50 kg delas, mas ninguém me contactou.
    Tenho estado a enviar encomendas por esse pais fora, como Faro, Lagoa e Figueira da Foz.

  3. Havia criadilhas sim cara Olga. E o restaurante tinha apenas um dos pratos que não tinha as iguarias descritas. Havia pratos com espargos, com tortulhos e com criadilhas. A senhora jornalista MENTE, e fá-lo propositadamente. Nada que me espante neste órgão de comunicação social.

  4. Peço desculpa se estou errada, eu não fui lá, mas muita gente veio dizer que não havia, eu continuo a dizer que se não havia foi porque não quiseram. Senhor João não é só importante haver para provar, mas sim para comprar, visto que muita gente se desloca a estes eventos para comprar produtos que não encontra a venda noutros lugares.
    Mas o que mais me espanta é fazerem ou quererem fazer política com estes eventos que nada têm com o Município.

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