Pequim dá sinal de abertura diplomática ao suspender sanções aplicadas a eurodeputados, numa manobra para desbloquear o Acordo Global de Investimento com a União Europeia. O gesto surge num contexto de reconfiguração das alianças globais, impulsionado pelo regresso de Donald Trump ao centro da política internacional
A China decidiu suspender as sanções impostas em 2021 a vários eurodeputados, na sequência das tensões com a União Europeia relacionadas com alegadas violações dos direitos humanos da minoria uigur, na região de Xinjiang. A decisão foi confirmada por um porta-voz da presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, que indicou que as negociações com as autoridades chinesas “estão na fase final”.
Este gesto de Pequim é amplamente interpretado como uma tentativa clara de reaproximação à União Europeia, visando reavivar o Acordo Global de Investimento UE-China, travado precisamente após a imposição mútua de sanções. O Parlamento Europeu recusou-se a ratificar o acordo em 2021, em resposta às medidas restritivas aplicadas pela China contra eurodeputados e entidades europeias.
A suspensão das sanções acontece num cenário internacional em mudança, marcado pelo regresso de Donald Trump à ribalta política. As suas posições hostis face à aliança transatlântica e à China parecem ter criado um incentivo adicional para uma aproximação estratégica entre Bruxelas e Pequim.
Entre os parlamentares visados pelas sanções chinesas estavam o alemão Reinhard Bütikofer, já fora do Parlamento Europeu, e os ainda em funções Michael Gahler (Alemanha), Miriam Lexmann (Eslováquia), Raphaël Glucksmann (França) e Ilhan Kyuchyuk (Bulgária). Além destes, as medidas incluíram dois comités ligados à UE, três deputados nacionais, o think tank alemão Mercator Institute for China Studies, a Alliance of Democracies Foundation e dois académicos.
Apesar do gesto chinês, as sanções da União Europeia contra entidades chinesas mantêm-se em vigor, mostrando que o processo de normalização será gradual e condicionado a desenvolvimentos futuros nas relações bilaterais.
Como parte desta nova etapa de diálogo, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o Presidente do Conselho Europeu, António Costa, preparam uma visita oficial a Pequim em junho, onde participarão numa cimeira com os líderes chineses. Este encontro poderá marcar um ponto de viragem nas relações entre as duas potências económicas, com o potencial de relançar o comércio e o investimento bilateral num período de incerteza global.