Por que ontem foi o Dia da Mulher cabo-verdiana, evoco Lourdes Chantre, a primeira gastrónoma, hoje com 95 anos, a viver em Lisboa, e Gertrudes Lima primeira poetisa, do século IX, das ditas “invisíveis” e que aplicou a cartilha de João de Deus em Cabo Verde.
Dizemos que para conhecer uma Nação é preciso conhecer as mulheres e em Cabo Verde as mulheres têm um papel fundamental na afirmação da identidade do seu país nos diversos campos da sociedade.

Evoco, assim, Lourdes Chantre, 95 anos, a viver em Lisboa e dotada de uma memória fantástica. Foi a precursora, em 1967, de um programa de rádio sobre a mulher cabo-verdiana “De Mulher para Mulher” na Radio Barlavento. É autora de várias obras sobre a gastronomia cabo-verdiana e aos 93 anos ousou publicar ““História, Tradição e Novos Sabores de Cabo Verde”, um volumoso livro, que é um hino á cultura cabo-verdiana através dos alimentos. Mereceu do primeiro presidente de Cabo Verde, Aristides Pereira a seguinte missiva, em 1979:”É com muito reconhecimento que lhe agradeço e felicito por tão importante contribuição para a reafirmação da cultura cabo-verdiana, processo em que estamos profundamente empenhados (..)”.
Gertrudes Ferreira Lima, que nasceu em 1854, na Ribeira Grande, Santo Antão e foi a primeira poetisa cabo-verdiana. Figura no Dicionário Mundial das “Mulheres Notáveis” da Editora Lello. Ela faz parte do início da formação da literatura cabo-verdiana, inserida no contexto da época em que se vivia em que as mulheres não tinham carreira as chamadas “invisíveis”
Colaborou com textos poéticos em diversos almanaques, nomeadamente Almanaque Luso-africano (1895) e também no Almanaque das Lembranças. Utilizava os pseudónimos de “Humilde Camponesa” ou a” Obscura Paulense”.
Estudou em Coimbra e foi professora, tendo introduzido em Cabo Verde a Cartilha de João de Deus. Faleceu em 1915.
No almanaque de Lembranças luso brasileiro, pode ler-se: “Dona Gertrudes Ferreira Lima (Humilde Camponesa) – “professora distinta, foi quem primeiro ensinou pelo método do grande pedagogo, preenchendo assim uma enorme lacuna no ensino das primeiras letras infantis”. – “Cabo-verdianos Ilustres”, in Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro (Presença Cabo-verdiana), 1901-1932, Vol. II, pág. 43.