A Última Ceia, evento central da tradição cristã, remonta aos relatos neotestamentários e carrega profundas raízes no contexto religioso do século I.
Sua origem está intrinsecamente ligada à Páscoa Judaica (Pessach), conforme evidenciado pela harmonização entre os Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) e a reinterpretação teológica do Evangelho de João[1][2]. Enquanto os Sinóticos apresentam a ceia como uma refeição pascal, na qual Jesus institui a Eucaristia ao identificar o pão e o vinho com seu corpo e sangue[1][3], João situa a morte de Cristo na hora do sacrifício dos cordeiros pascais, enfatizando-o como o “Cordeiro de Deus”[1][4]. Essa aparente contradição cronológica pode ser resolvida com a hipótese do uso de calendários alternativos, como o da comunidade de Qumran, que permitiria a celebração em datas distintas[4].
Primeiras Menções e Documentos Históricos
A referência mais antiga à Última Ceia aparece na Primeira Epístola aos Coríntios (53-54 d.C.), onde Paulo descreve a instituição da Eucaristia (1Cor 11:23-26)[2]. Os Evangelhos Canônicos, escritos entre 70 e 100 d.C., consolidaram a narrativa. Além dos textos bíblicos, destaca-se um papiro do século VI encontrado na Universidade de Manchester, que contém uma das primeiras citações extrabíblicas à liturgia eucarística, mencionando a Última Ceia e o maná[5]. Não há registros históricos contemporâneos a Jesus que confirmem o evento, mas práticas eucarísticas são atestadas em escritos patrísticos do século I, como a Didaquê[2].
Debate sobre Origens Pagãs
A teoria de influências pagãs surge em vertentes académicas que associam a Ceia a refeições funerárias gentias, comuns no mundo helenístico. No entanto, a maioria dos estudiosos rejeita essa ligação, argumentando que a estrutura e o simbolismo da Eucaristia derivam diretamente da Pessach judaica, reinterpretada à luz da morte e ressurreição de Cristo[2][3]. A originalidade cristã reside na transposição do ritual de libertação do Êxodo para um contexto de salvação espiritual[3].
Celebrações Contemporâneas (2025)
A Última Ceia é comemorada globalmente na Quinta-feira Santa, com variações litúrgicas:
· Igreja Católica: Celebra a Missa da Ceia do Senhor, com o lava-pés e a reserva das hóstias consagradas. Usa pão ázimo e vinho[2].
· Igrejas Ortodoxas: Realizam a “Divina Liturgia de São Basílio”, com pão fermentado (prosphora) e ênfase na mistério da transubstanciação[2].
· Protestantismo: Denominaciones como luteranos e anglicanos mantêm a Eucaristia, enquanto grupos evangélicos adotam celebrações simbólicas esporádicas[2].
Diferenças Regionais
· América Latina: No México, comunidades indígenas integram elementos culturais, como o uso de milho no pão.
· Filipinas: Encenações dramáticas da Última Ceia (Pabasa) envolvem toda a comunidade.
· Etiópia: A Igreja Ortodoxa Tewahedo celebra com danças tradicionais e jejum rigoroso.
A Última Ceia cristã emerge de uma releitura teológica da Pessach, consolidada em textos do século I e perpetuada em práticas diversificadas, que refletem tanto a unidade doutrinal quanto a riqueza cultural das comunidades cristãs.
1. https://www.semanticscholar.org/paper/05a82a50854726f993772b0a5dd7fba8576dec0c
2. https://pt.wikipedia.org/wiki/Última_Ceia
3. https://revistas.pucsp.br/reveleteo/article/download/59049/42665?inline=1
4. https://agencia.ecclesia.pt/portal/bento-xvi-explica-sentido-da-ultima-ceia/
5. https://www.ihu.unisinos.br/categorias/170-noticias-2014/534898-encontrado-papiro-com-referencia-mais-antiga-a-ultima-ceia