Os autarcas representando os municípios mais atingidos pelos tumultos e ouviram da parte do Governo promessas de apoio no reforço de polícia nas ruas e uma especial atenção aos autocarros de transporte público. Após reunião com autarcas da Área Metropolitana de Lisboa, devido aos desacatos nas últimas noites, o ministro da Presidência afirmou que houve “uma atenção especial à segurança dos autocarros”
Foi uma manhã de partilha entre o Governo e os autarcas da Área Metropolitana de Lisboa (AML) das preocupações relativas aos desacatos das últimas noites em diferentes municípios. Ricardo Leão, presidente da Câmara Municipal de Loures, em declarações ao ORegiões revelou que apresentou um projecto no encontro com o Governo para se retomar o programa de mediadores locais como forma de fomentar a melhoria da qualidade de vida e a coesão social da comunidade, através da dinamização de diversas atividades com vista à inclusão, promoção, capacitação e participação dos moradores do bairro.
Na prática, apesar de saber que os resultados dos mediadores locais não são imediatos, Ricardo Leão considera que esta é uma forma de combater os sentimentos de exclusão social dos residentes e promover dinâmicas relacionais satisfatórias, entre os moradores, de forma a desenvolver uma maior coesão e espírito de comunidade.
Por isso, o autarca lembra que é preciso retomar os mediadores, “que eram agentes locais dos bairros” com uma formação profissional dada e paga pelo Centro de Emprego. Esses mesmos representantes “faziam, muitas vezes, a gestão de conflitos dentro do bairro” e “dava resultado”.
Segundo o autarca, o Governo tomou nota desta sua proposta e prometeu estudar o assunto. Uma fonte governamental garantiu ao ORegiões que o Governo vai estudar a proposta do presidente da câmara de Loures e que essa poderá ser uma forma de se promover a inclusão social e evitar futuros desacatos.
Forças de segurança em prontidão
No final da reunião, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, referiu que foram postos à “disposição e utilização” meios de vigilância “presencial, cibernética e nas redes” sociais para se prevenirem os “comportamentos errados”, anunciando o “acionamento de todos os meios de vigilância” para combater a violência dos últimos dias.
“Nós partilhamos com os senhores presidentes de câmara toda a atuação que o Governo e as autoridades de segurança e os serviços e forças estão a realizar como, por um lado, toda a disponibilização e toda a utilização de meios de vigilância desde presencial a cibernéticos, às redes para detectarmos e prevenirmos todos os acontecimentos errados”, explicou o ministro.
Em declarações aos jornalistas, Leitão Amaro reitera o acionamento de todos os meios que o Estado dispõe para garantir a segurança e promete uma ação “firme” para parar com “os comportamentos de violência e de destruição de bens públicos”. Algo que foi “muito visível” esta madrugada nos bairros onde existiram “situações de maior vulnerabilidade”.
“Essa posição significa que nós temos todas as forças alinhadas, designadamente e obviamente em primeira linha PSP e GNR que têm responsabilidade territorial, não apenas com os meios normais para estes territórios, com a possibilidade e disponibilidade e prontidão para reforço. Tudo isto foi garantido e foi partilhado com os senhores presidentes de câmara.”
Segurança de autocarros vai ser reforçada
O ministro da presidência acrescenta, ainda, que esta posição “significa também dar uma atenção especial à segurança nos autocarros”. Algo, que explica Leitão Amaro, foi uma das manifestações dos autarcas que se reuniram com o Governo.
“Isto significa adoção de meios de dissuasão e prevenção e garantia de segurança. Os portugueses, todos aqueles que vivem em Portugal, têm de se sentir seguros em cada parte do território nacional.”
Questionado sobre se poderá passar a existir um polícia por autocarro, Leitão Amaro respondeu que “próximas horas em articulação Governo, autoridade metropolitana e os responsáveis das forças de segurança para dar essa perceção de segurança”.
“Ao longo das próximas horas, a Autoridade Metropolitana com as forças de segurança e o Governo, vamos continuar a programar o reforço de segurança não apenas nos autocarros, mas também nos autocarros. “Os portugueses notarão, como notaram ontem, um reforço da presença das forças de segurança no terreno.”
“Não olhem para os autocarros, quem pensa fazer mal, como um alvo que podem atacar sem consequências. As consequências e a presença das forças de segurança estarão asseguradas”, acrescentou Leitão Amaro.
O ministro da Presidência agradeceu, ainda, às forças de segurança pelos esforços em conter a violência nos bairros da grande Lisboa, mas diz que não deixam de estar sujeitos a escrutínio.
“Se por um lado apoiamos convictamente e agradecemos profundamente às mulheres e homens das forças de segurança que estão no terreno, muitos com pouco descanso nas últimas horas porque isto é um ciclo permanente, agradecemos muito profundamente. Em segundo lugar, nós reafirmamos o nosso princípio de confiança na atuação das forças de segurança. Tudo isto não prejudica que nós digamos que todas as atuações de todas as partes agentes e autoridades do Estado estão sujeitas a escrutínio”.
Sobre se teme que os tumultos continuem, Leitão Amaro diz que teme “se as pessoas que erradamente que as pessoas que os praticam os façam, não compreendendo e não notando que o Estado está a atuar”.
As preocupações de Ricardo Leão
Na véspera, quarta-feira, em entrevista à Grande Edição da SIC Notícias, Ricardo Leão já tinha demonstrado as suas preocupações com os desacatos registados em vários bairros da região de Lisboa. No concelho, mais especificamente na Quinta da Fonte, vários caixotes de lixo foram incendiados na rua.
“Os danos foram à volta de 30 contentores e ecopontos, todos vandalizados, queimados, danificados. Hoje fizemos a recolha deles, mas não fiz a reposição dos mesmos. Porém, fizemos a devida recolha dos resíduos”, contou.
Ricardo Leão acredita que estes distúrbios tratam-se de “um ato isolado como consequência do acontecimento infeliz que aconteceu e que há de se averiguar no seu inquérito”.
“É uma manifestação de descontentamento, mas de uma forma que eu próprio repúdio e a grande maioria dos moradores [dos bairros em causa] repudiam”, sublinhou após, segundo disse, ter contactado várias associações desses mesmos locais.
O presidente da Câmara Municipal de Loures garantiu que a maior parte dos residentes dos bairros não veem com bons olhos, por exemplo, os autocarros incendiados, uma vez que está a “colocar em causa a segurança e a danificar aquilo que é um bem público e que é utilizado por estas mesmas pessoas.
Outro aspeto que apontou é a falta de meios e agentes policiais. “É importante videovigilância, mas também um policiamento de proximidade”, assegurou.
“Os agentes da PSP fazem milagres com os meios que têm. E no meu concelho, sei bem do que falo”, criticou, dizendo que “há um sentimento generalizado de insegurança por parte das pessoas”, dada a ausência do policiamento de proximidade.