Façamos de conta, por agora, que toda a história de Jesus é verdadeira e bem contada. Não deixamos entrar polémicas, nem críticas. Por isso, esta noite começa a celebrar-se, depois do sol se pôr, o aniversário do nascimento de Jesus de Nazaré, filho da jovem Maria, com cerca de 14 anos, e perfilhado por José, de quase 30. Aponte-se a data para amanhã de madrugada, meia-noite e picos de 23 de Kislev de 3786. Sim, a verdadeira data do nascimento de Jesus é esta. O calendário que estamos a usar é o hebreu, aquele se os judeus usavam naqueles tempos.
Por isso, dia 23 é o dia certo. O mês é o de Kislev, que se situa na transição entre o Outono e o Inverno, associado às chuvas em Israel, marcando parte da estação chuvosa crucial para a agricultura. A origem da palavra tem duas raízes.
A primeira, baseada na língua acadiana, é “kislimu”, que significa “obscurecido,” referindo-se ao céu nublado. Já a raiz hebraica kesel (כֶּסֶל), significa “esperança”.
Nós portugueses compreendemos muito bem porque Jesus nasceu nesta data deste mês. Somando o “obscurecido” com a “esperança”, numa conta simples de fazer, chegamos ao nosso Muy Querido “O Encoberto” – como sabem, o nome que se usa para D. Sebastião e para a lenda mais marcante da mitologia portuguesa. Afinal, D. Sebastião, dentro do mito do eterno retorno, torna-se no nosso Jesus. Curioso, verdade?
Falta-nos aqui o ano. Então Jesus nasceu em 3786? Como, se só agora estamos em 2024?
A explicação é muito simples. O povo judeu acredita que o Mundo foi criado por Deus há 3786 anos. Melhor ainda: o ano zero desse calendário é contado a partir do dia em que Deus criou Adão. Hoje, estamos em 5785. Ao contrário, o calendário “gregoriano”, o que usamos nos nossos dias, conta a partir do nascimento de Jesus. Por isso se pode dizer que o Salvador faria 2024 anos. Mais década, menos década, porque houve um monge que se enganou nas contas e há várias correntes de pensamento – umas dizem que estamos mais à frente, outros acreditam que devemos arredar lá para trás.
Seja como for, a verdade é que depressa Jesus, segundo a literatura cristã e não corroborada por nenhuma fonte externa e/ou histórica, se deu a conhecer. Conhecemo-lo como caspinho e, depois, a narrativa dá um salto até que tenha 32 anos. E começa a contar as façanhas a partir desse momento. Jesus intitulava-se, então, Rei dos Judeus. Sim, Jesus era Judeu, nasceu Judeu e morreu Judeu.
Para enorme gozo, os Romanos, que ocupavam as terras de Israel e, especialmente, o monte onde o crucificaram, o Gólgota (o Calvário), quiseram gozar com ele. Mesmo na hora da morte.
Por cima da cabeça escreveram numa tábua que ali andava a arrastar pelo chão, e sob comando do governador Pilatos, as iniciais “INRI”. E, para que ficasse composto, fizeram-nos em latim (língua dos Romanos), em grego e em hebraico. São três alfabetos diferentes, mas que queriam dizer a mesma coisa.
E que piada era? É que I.N.R.I. quer dizer «Iēsus Nazarēnus, Rēx Iūdaeōrum», cuja tradução é «Jesus Nazareno Rei dos Judeus». Porque tinha sido esta a acusação que lhe fizeram, Jesus confirmou que era mesmo o Rei dos Judeus e o povo decidiu condená-lo pela blasfémia.
Só quase 400 anos depois desta cena, a que se chama Paixão, é que se começou a desenhar com alguma segurança, a religião cristã. Ironicamente, pela mão dos romanos…