Ao falecer um Papa, a Igreja Católica acciona um dos rituais mais solenes meticulosamente organizados, reflectindo séculos de tradição e simbolismo. O processo inicia-se com a verificação oficial do óbito, realizada pelo Cardeal Camerlengo, que declara a morte do Sumo Pontífice e retira o Anel do Pescador – gesto que simboliza o fim do pontificado. Imediatamente, inicia-se o período de luto, tradicionalmente conhecido como os “novemdiales”.
Durante este interregno, que se estende por cerca de nove dias, o corpo do Papa é preparado através de um rigoroso processo de embalsamamento e conservação, garantindo que os fiéis possam prestar as suas últimas homenagens. O sepultamento, por sua vez, ocorre geralmente entre quatro e seis dias após a morte, permitindo a chegada de peregrinos de todas as partes do mundo à Basílica de São Pedro.
A cerimónia fúnebre propriamente dita segue uma ordem cuidadosamente estipulada. Após a declaração da morte, o corpo é exposto numa capela ou directamente na basílica, onde uma multidão de fiéis se reúne em sinal de respeito. A Missa de Funeral, conduzida por altos dignitários e coordenada pela Secretaria de Celebrações Litúrgicas Pontifícias, representa o ponto alto do rito. Durante esta celebração, os ritos litúrgicos – como a unção, a leitura de passagens sagradas e a pregação – reforçam a mensagem de esperança na ressurreição.
Na sequência, tem lugar a procissão solene que reúne membros do Colégio dos Cardeais, bispos e outras autoridades eclesiásticas, acompanhados por representantes de governos e dignitários internacionais. Este cortejo ritual destaca a dimensão universal da Igreja, em que líderes religiosos e civis se reúnem para homenagear o legado espiritual do pontífice. A ordem dos acontecimentos segue uma hierarquia estabelecida: desde os primeiros ritos de constatação e preparação, passando pela celebração da Missa, até à despedida final e o traslado do féretro para o local de sepultamento.
Recentemente, sob o pontificado do Papa Francisco, foram introduzidas algumas modificações com o intuito de simplificar os ritos e reduzir elementos considerados excessivos. Por exemplo, a antiga prática dos “três ataúdes” – de ciprés, plomo e roble – foi eliminada, assim como a verificação da morte, que passa a ser efectuada numa capela, em vez do quarto pontifício. Tais alterações procuram enfatizar o carácter pastoral do serviço, aproximando o funeral papal do rito aplicado aos demais ‘obispos’, sem contudo retirar a solenidade inerente à posição do Papa.
Apesar das mudanças, a essência do ritual permanece: um percurso de despedida que reforça a continuidade e a unidade da Igreja. Durante todo o processo, é imperativo que estejam presentes os membros do Colégio dos Cardeais, que desempenham funções essenciais – desde a organização e supervisão dos ritos até à condução do conclave em caso de vaga da Santa Sé –, bem como representantes de outras nações, dignitários e, naturalmente, os fiéis.
Em síntese, as cerimónias fúnebres de um Papa constituem um complexo conjunto de ritos, cujo rigor e ordem são fundamentais para traduzir a profundidade do luto e o reconhecimento do legado espiritual deixado pelo Sumo Pontífice. Cada etapa, desde a declaração da morte à despedida final, é planeada de forma a honrar não só a figura do Papa, mas também a tradição centenária da Igreja Católica.