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Páscoa, Promessas e Panças: A Via-Sacra de Castelo Branco

Na Beira Baixa, o tempo da Páscoa chega com os seus rituais bem definidos: procissões com andores, folares com ovos e coelho (que não se sabe se são de chocolate ou de engano) e um país profundo que ainda bate o compasso ao som das matracas. O povo, fiel como sempre, segue atrás da cruz enquanto leva com a cruz às costas o peso da política local, feita de promessas por cumprir, de sorrisos de plástico e de uma habilidade ímpar para se esquivar à verdade — como quem foge do incenso por alergia moral

No meio da fé e das amêndoas, há também um teatro político digno de qualquer peça de feira: campanhas que mais parecem peditórios, promessas que dariam um romance de ficção e um descontentamento social que se tenta mascarar com farturas e concertos de verão. Mas o povo já não vai em cantigas. Ou melhor, ainda vai, mas só até à primeira nota desafinada.

Castelo Branco, bela cidade com nome de pureza, tem assistido, com um olho aberto e outro cansado, aos desvarios de uma pandilha política que parece saída de uma opereta amadora. O presidente em funções, Leopoldo Rodrigues, tornou-se mais visível pelo alargamento literal da sua figura do que por qualquer obra memorável. Não se lhe conhecem projectos de relevo, apenas festas e festarolas, copos e croquetes, onde se apertam mãos sempre às mesmas caras. São encontros de afilhados e compadres, já sem brilho, já sem arco-íris, apenas uma névoa espessa de interesses repetidos.

O alfaiate, coitado, já não sabe se corta mais pano ou se simplesmente desiste. O fato que em tempos foi feito largo, por prudência ou previsão, já estoura pelas costuras. E não falamos só de pano — falamos de postura, de competência, de decência. O cargo exige cintura política e não cintura aumentada. E o problema não é a balança: é o desequilíbrio na gestão, a inépcia em servir a cidade com trabalho e visão. Leopoldo mostrou-se um político de festas e pouco mais. De passo cerimonial, mas sem rumo. De discurso cheio de palavras redondas, mas vazio de substância.

A cidade não precisa de um mestre de cerimónias. Precisa de liderança, precisa de obras que não sejam apenas rotundas com flores para inglês ver. Precisa de alguém que saiba o que fazer com um orçamento, para além de gastar em palcos e pimbalhadas.

E agora, à medida que o tempo das autárquicas se aproxima, há quem tema — com razão — que o fato se volte a ajustar a um novo ciclo de promessas ocas. Mas esperemos que não. Esperemos que os eleitores, mais atentos que nunca, percebam que não se governa com balões de ar quente nem com bifanas ao som de música popular.

Porque Castelo Branco é mais do que festas de verão. É mais do que um palco onde dançam sempre os mesmos. E já é tempo de sair do teatro de marionetas. Já chega de enganos embrulhados em papel de rebuçado.

Nesta Páscoa, em vez de ovos, que venham decisões. Em vez de coelhos, que surja coragem. E que a única coisa a arrebentar… sejam mesmo as costuras do fato, já que a paciência do povo, essa, já rebentou há muito.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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