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Tempestade origina o caos em todo País

 

inundações por todo país
Foto DR

Estradas cortadas, escolas encerradas, casas alagadas, famílias desalojadas, pessoas resgatadas, carros submersos, derrocadas e deslizamentos de terras e estações de comboio e de metropolitano encerradas, são as consequências imediatas da chuva intensa, acompanhada de ventos fortes, que se abateu sobre os distritos de Lisboa, Portalegre e Setúbal. Mas Governo e autarquias já estavam avisados, há mais de 50 anos, para a possibilidade de uma situação como a que hoje se viveu. Todos fizeram “ouvidos de mercador” às advertências dos arquitetos Ribeiro Telles e Nuno Portas.

À semelhança do que aconteceu na passada quarta-feira, várias regiões do distrito de Lisboa ficaram novamente inundadas, devido à chuva que caiu na madrugada desta terça-feira. A Proteção Civil registou mais de mil ocorrências, sobretudo relativas a inundações, um pouco por todo o país.

Para alguns especialistas, a situação que se está a viver é fruto de falta de ordenamento do território e de muitos erros ao nível da prevenção de riscos de cheias, de erosão, de deslizamento de terras, ocupando zonas de declives elevados”.

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Estas cheias, na perspetiva dos técnicos, nomeadamente da Quercus, são “uma oportunidade de percebermos porque é que a Reserva Ecológica Nacional é tão importante em termos de preservação”, defendendo que “é à custa de não termos uma estrutura de espaços verdes, de zonas que permitam a infiltração das águas nas cidades, a par de problemas de drenagem, que tivemos este episódio”.

Mas já há 50 anos, os arquitetos Nuno Portas e Gonçalo Ribeiro Telles chamavam a atenção para os problemas do desordenamento do território, explicando que a “queda pluviométrica elevada e a degradação física e biológica da região onde se verificaram as chuvas, por motivos que são da inteira responsabilidade do homem”, estavam na origem das cheias de 1967, que provocaram mais de 500 mortos na noite de 25 para 26 de novembro, em Odivelas.

Para Ribeiro Telles e Nuno Portas, as causas principais das cheias deviam-se à degradação na região de Lisboa que estava relacionada com a destruição das matas, a plantação indiscriminada de eucaliptais, a destruição das sebes de compartimentação, que aumentaram a erosão do solo e, por conseguinte, aceleraram o processo de empobrecimento dos terrenos e o aumento dos carrejos nas linhas de água.

Para Gonçalo Ribeiro Telles, a degradação ocorreu também porque “a expansão urbana, comandada pela especulação e consentida pela inércia das entidades responsáveis, ocupa também os terrenos de várzea e os leitos de cheia das linhas de água, destruindo o condicionalismo hídrico e biológico dos vales e comprometendo o escoamento normal dos caudais de cheia”.

Afinal Ribeiro Telles e Nuno Portas tinham razão.

Hoje, passados 50 anos, alguns autarcas, designadamente Isaltino Morais, presidente da Câmara Municipal de Oeiras, colocam o «dedo na ferida» e responsabilizam o Governo por manter, há mais de 20 anos, nas «gavetas» dos gabinetes ministeriais “vários projetos que poderiam minimizar as consequências deste tipo de intempéries”.

Isaltino Morais, dá como exemplo, o alargamento das margens da ribeira de Algés, que implica uma obra intermunicipal, envolvendo os concelhos de Sintra, Amadora, Lisboa e Oeiras e os ministérios das Infraestruturas e do Ambiente. Há mais de 20 anos que foi apresentado este projeto, mas, até hoje, a obra continua a aguardar melhor oportunidade”.
Este é um dos muitos exemplos que poderiam ser dados para compreender as cheias que ocorreram um pouco por todo o país por falta de observância dos Planos Regionais e de Ordenamento, que provocaram “a confusão urbanística”.

Quantas vezes o arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles alertou para esses perigos e avisou para a necessidade de uma cidade com corredores ecológicos, que respeitassem também a corrente das águas, alertando, já no final da sua vida, que as tempestades podem tornar-se mais frequentes, mas a incúria na gestão do território e a falta de previsão já é um fenómeno antigo.

Previsões que, infelizmente, se confirmaram hoje no país: há várias inundações, desabamentos de terras, casas inundadas, estradas cortadas, corte de circulação da linha ferroviária entre Cais Sodré e Oeiras e da linha Leste entre Portalegre e Elvas. A capital esteve em alerta vermelho durante a madrugada. Agora, está em alerta amarelo, assim como Setúbal.

A chuva intensa da última noite provocou uma enxurrada em Campo Maior, distrito de Portalegre, deixando carros submersos, casas inundadas e estradas intransitáveis. A autarquia acionou o Plano Municipal de Emergência.

Em Algés, a situação é particularmente crítica, com vários vídeos e fotografias a mostrar um cenário de ruas inundadas. A baixa do concelho de Oeiras ficou mesmo “intransitável”.

A Câmara Municipal do Seixal, no distrito de Setúbal, registou até ao momento 95 ocorrências no concelho relacionadas com o mau tempo e sinalizou 27 pessoas desalojadas. A autarquia explica que os 27 desalojados estão a ser acompanhados pelos serviços municipais numa zona temporária de acolhimento.

Em Loures, no distrito de Lisboa, a Câmara contabilizou hoje “mais de 110 ocorrências” devido às chuvas fortes e “12 desalojados, que estão a ser acompanhados por técnicos” do município, anunciou a autarquia.

Ricardo Leão, presidente da autarquia de Loures, informou que as ocorrências são relativas a deslizamentos de terras, quedas de muros e de árvores, inundações e cheias, e que foram mobilizados cerca de 300 operacionais das forças de socorro e segurança.

Estradas cortadas em Lisboa, Santarém, Setúbal, Portalegre e Évora.

Por outro lado, em consequência da tempestade, quase 30 estradas estavam hoje à tarde cortadas ao trânsito nos distritos de Lisboa, Santarém, Setúbal, Portalegre e Évora devido ao mau tempo, segundo a última atualização da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), realizada por volta das 18:30 horas.

A última atualização feita na página da internet da ANEPC dá conta que estão cortadas ao trânsito um total de 29 estradas, sendo a maioria no distrito de Lisboa.

Segundo a ANEPC, no distrito de Lisboa estão cortadas ao trânsito a estrada nacional (EN) 8, entre Odivelas e Loures, a EN 250, na zona de Frielas, a EN 115, entre Rotunda Oliveiras e A das Lebres, a Autoestrada (A) 8, acesso a Loures, a EN 9, entre Ponte Rol e Torres Vedras, Calçada de Carriche, em Odivelas, a EN 247, na Foz Lizandro Ericeira, EN117, entre Queluz e Algés, IC 20 (Via Rápida da Caparica), IC 17, entre Algés e Sacavém, saída da A5 para IC 17, EN 249, entre a Abóboda e Sintra, acesso do IC16 para a CRIL, na zona da Pontinha, e acesso IC19 para a Buraca.

A EN 248, entre Arruda dos Vinhos e Sobral de Monte Agraço, no distrito de Lisboa, está também cortada.

No distrito de Setúbal, mantêm-se cortadas o acesso N6-3 Auto da Boa Viagem, N6 Auto da Boa Viagem e o IP7 para a Ponte 25 de Abril (sentido Norte-Sul).
Em Portalegre, está cortado o IP2 entre Monforte/Portalegre, a EN 244, em Avis 9, a EN 246, em Arronches, e a EN 245, na Ponte Fronteira, bem com a EN 371, em Campo Maior, e EN 373, na mesma localidade.

Em Évora são a EN2, em Mora, e a EN 251, entre Monte da Barca e Mora, que estão cortadas.

No distrito de Santarém, permanecem interditas ao trânsito a EN119, em Coruche, a EN 365, entre Vale de Figueira e Pombalinho e a EN 118, que está cortada em Concavada (Abrantes), Santa Margarida (Constância) e em Benavente.

A ANEPC indica também quais as vias intransitáveis na cidade de Lisboa, que são os túneis Campo Pequeno, Campo Grande, Avenida João XXI, Avenida de Berlim, Radial de Benfica, Av. Infante D. Henrique junto ao Túnel Batista Russo, vários locais de Alcântara, acesso Eixo Norte Sul na radial de Benfica, Av. Infante D. Henrique junto ao Túnel Batista Russo, Avenida de Santo Contestável, Av. 24 de Julho, Av. Índia e Estrada de Chelas.

 

 

 

 

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Alfredo Miranda
Alfredo Miranda
Jornalista desde 1978, privilegiando ao longo da sua vida o jornalismo de investigação. Tendo Colaborado em diferentes órgãos de Comunicação Social portugueses e também no jornal cabo-verdiano Voz Di Povo.

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